BEIRA
Ballot acende mares à ponta dos pés
vai enfiar canoas no sonho que afundou
SAFÁRI
Levava espelho quadrado
chamava gaiola
capturar paisagem e moça
VENTO
Se as saias erguidas
balançam aos pés do mar
o vento
respira
dentro delas
A BELA DA TARDE
Fui atravessar a tarde
os policiais me bateram riram
cuspiram
condenaram meus olhos a duzentos anos
só porque fui ver
a bela
da
tarde
JOGO DE FIAR
Só morria se o cavalo passasse
ao longo da janela
passava nunca
um dia
o amazonenese desenhou o trem
na parede da casa
foi
ladrilho no olho
para Cusco
CONDE
Conde de Pancarté tem elétrica pantera
flameando entre pernas suadinhas
as que morrerão, as pernas
OSTRA
Nunca sei fazer milagres
soubesse
dava festa
acendia vespas de absoluto vôo
assim como passam os dias
te passava na boca
caju pérola deliciazinha ê
drumia si si sacratim xanxá
embolado em tuas águas
BALIZA
Dois coqueiros
o fio d' luz cruza seus topos
a lua é gol
NO VERÃO AMADURECEM OS CHAPÉUS
Voava cidade foi cair nos cabelos
da castelã calçava luar
dentro do chapéu não havia fundo
podia-se tocar o fim do mundo
Lindalva viu
olhos berloques
que o fim do mundo
é como fim de beijo
semana vem que virá outro
OLHEIRAS
Se vou lento é que engoli tartarugas
passei lenço roxo aos olhos
meu automóvel ficou parado
espera tuas louças
AZULEJO
Ladrilho suja pés de Maria Catorze
que leva resedá a uns deuses no espelho
seus olhos
CRUSOÉ
Órion é milenária
cada um está no seu pó
GUEPARDO
Guepardo vivia (o que o tornava infinito)
vazio a dentro dum banheiro da rua Gonçalves
não consultava relógio
ou respirava estrelas
na terceira poltrona Luzia escutava foxtrote
as veias um pouco na luz
meias nuas em cadeiras vimes
sonhava dentes de guepardo
HISTORIETA
Roubaram muletas do perneta
rezou a Nossa Senhora da Luz
não devolveram
sentado na calçada sorriu
mulheres vieram beijar
o seu único pé
POÇAS
O corcunda de Notre Dame
enquanto o mundo se consumia
pintava em poças magras
a instantânea lua
só porque amava os três tons do azul
PRENOM CARMEM
Passa trem na tela
gaivotas
Beethoven hipnotiza águas
o cego ao entrar faz barulho tropeça
à sombra de um lírio
moça diz que foi nada
o cinema é bom lugar
pra se dizer adeus
VESTIDO
Vestido clareia lua cheia de bolinhas
uma delas é o mundo
assanha os gatos
QUINTAL
Beijar orelha no alto do abacateiro
a coxa dela dói nas minhas linhas
QUEDA
Caiu do alto jacarandá
antes de beijar o chão deu abraços
fez lição de casa andou fumou foi
ao cinema teve um
cachorro
amara Leila Maristela Rita
escreveu esse poema e não morreu
o páraquedas abriu
BIOMBO
Mão de Nadja Maran viraram peixes na hora do rush,
as mãos. E os que
olhassem no fundo nos olhos deles ficavam
nus
nudez tão funda
que nem
o
biombo
os esconderia
A FLOR DE CAQUI DA NUDEZ
Passo dedos em brincos passo
a mão
na flor de caqui da nudez
vês?
abandono um vaso quebrado a teus pés
QUANDO VOLTARAM
Ônibus amarelo furou pneu
ficamos ali sentados
eu e meu amor
ouvindo as conchas que catamos
ROMAN À CLÉ
O faquir acendia postes postes
em cada pendurava o retrato da mulher de sua vida
que lá vem onceira macieza a danada vem
bêbeda
finca ao lado das fotos
a foto do faquir
4 cenas em 4 instantes
Há 6 anos
2 comentários:
Bela artilharia, bela artilharia Karl.
Geniais. Abçs.
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