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terça-feira, 12 de outubro de 2010

UM TEXTO DE MARCO VASQUES

encontro

amargo é doce que não comemos naquela noite. de teus olhos medusas de gelo em fogo na face de minha mão esquerda. na mão direita um lago por onde cabeças de cimento e aço escrevem acrobacias com palavras de areia. tua pele continua na minha depois da chuva, do horror de uma tempestade de silêncio cravada naquela placa de mármore e da colheita dos teus cabelos espalhados no corredor daquele portal. a morte não é mais a morte. um silêncio de tua boca. boca que devora a desova do veneno. boca que galvaniza meus dentes e neles desenha umas torturas eternas. unhas, dentes, mãos e bocas no trapézio tristeza hoje. um silêncio de tua boca cegou meu olho no final da tarde. um silêncio da tua boca. uma recusa amarga aquele beijo morto. durmo durmo com o sorriso soterrado. a voz em chamas a espera de um poema. Tenho trinta e seis mãos no guarda-roupas. Um incêndio nos lençois. silêncio silêncio silêncio é o carnaval de minha insônia que baila. um silêncio da tua boca que aqui habita.

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