...

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

UM TEXTO DE MARCO VASQUES

corpo

o corpo nada sabia. a nudez ainda um mistério. a casa túmulo vivo. desejo de doação. fios de cabelo para fabricar flautas. do crânio um instrumento de percussão. dos ossos um faqueiro. garfos. facas. colheres. da pele páginas para poemas. o sangue para fabricar alguns quadros. Bosch. Magritte. Dali. Picasso. na tela a dor circular. Pollock e a gravidade do vermelho. Vermelho em Bach. Vermelho soturno e surdo nos dedos de Beethoven. das tripas um saxofone. o corpo nem música será. nunca foi. conheci a sepultura na carne. esganadura. o corpo nem música será. nem foi.