I
um cartapácio de folhas secas e pano
estralam sob as digitais
as palhas, as falas, o solo, as solas
rachadas, hidratadas
um corpo
igual sob a luz q desce a oeste
ao som comprido de um oboé.
quero mesmo todas as falhas
as frestas todas as cores todas os dias
dança todas as noites a imobilidade
lugar outro, tempo outro, os mesmos no exterior
da maquina do Dr. Faustroll
poucos veem
outros menos ainda
dançam.
ser cartapácio
desperta um desejo de síntese
memória, até parece
por isso as digitais
suas vertigens e deltas
povoam estas margens
olhos baixos bulbos de luz intensa
porém embargada
não chove, não chove, não chove
(assim a seara seca sob as solas)
palavras verdes, amarelas, vermelhas, azuis:
flores maduras
sob o sol
desidratam as tatuagens
ao menos onde os olhos não alcançam
quero te ver dançar
na pele da tarde talvez
II
povoo este território onde antes mar,
sua desmedida quantidade de pétalas
esta guirlanda inerte na areia,
ignorada, pode mentir, porque tem sangue.
não faz diferença, talvez mau agouro.
distante assim pro mar a maresia
dança o espantalho de costas. aqui. longe
ilumina-o as falas do trompete
e as pétalas que deixei na beira da praia
agora, uma esquadra sem bússola
estrelas boiadas, borboletas marinhas
virei as costas na partida, segui
os mesmos passos do espantalho, do Báçira
tudo gira ao seu redor, ao meu. ali, dançando. no campo árido
como extensão que só existe entre as palavras,
o enorme silêncio. talvez aqui a minha casa
talvez aqui, sinta, como no mar, a extensão
e o solavanco, as fronteiras rangendo ao longe
planto e pesco neste espaço
povôo as falhas das letras, minha mais cara não sabência .
quem sabe em breve a floração
a qualquer momento podemos não ter o solo,
dizemos, então, diante de todo este espaço:
_ um campo re-coberto de naufrágios.
[o espantalho olha de lado, sorrimos]
cristiano moreira
Um comentário:
Eu também quero desidratar tatuagens e dançar na pele da tarde. É isso aí mano!
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